O que é a Medicina de Família, afinal de contas?

O que é a Medicina de Família, afinal de contas? Medicina de Família e Comunidade. Ana Maria Sant'Ana.

Medicina de Família e Comunidade é uma especialidade médica pouco difundida e valorizada no Brasil. Os médicos que atuam nesta área se auto denominam médicos de família ou médicos generalistas. Na Inglaterra, onde a especialidade se originou, ela é conhecida como medicina geral (General Medicine), mas em outros países de língua inglesa, como Estados Unidos e Canadá, é denominada medicina de família (Family Medicine). Portugal optou por adotar os dois nomes e por lá o nome oficial é Medicina Geral e Familiar. O termo ‘geral’ cria certa confusão, pois ‘clínico geral’, que não corresponde a nenhuma especialidade médica registrada no Brasil, é a denominação dada a médicos sem nenhuma especialização.

Os médicos de família são especialistas em problemas comuns. Esses problemas são definidos utilizando registros do motivo que levou a pessoa a consultar. Uma pesquisa canadense publicada em 2018 reúne dados referentes a atendimentos de médicos gerais em 12 países. O quadro abaixo lista os problemas mais frequentes encontrados neste estudo.

Problemas Comuns na Atenção Primária

  • 1. Infecção Respiratória alta
  • 2. Hipertensão
  • 3. Avaliação de Saúde
  • 4. Dor articular
  • 5. Diabetes
  • 6. Depressão ou ansiedade
  • 7. Pneumonia
  • 8. Otite média aguda
  • 9. Dor nas costas
  • 10. Dermatite

A formação dos médicos de família se baseia em listas como esta, permitindo aprofundar os conhecimentos nos problemas comuns na comunidade onde atua.

A atuação na comunidade, por outro lado, também leva a algumas peculiaridades do trabalho em Medicina de Família. Para compreender melhor esta questão, podemos usar o SUS como exemplo. A figura a seguir representa como o sistema de saúde se organiza em 3 níveis de atenção.

Níveis de atenção à saúde. Medicina de família e comunidade.

Na comunidade, ao contrário do hospital, a doença não é regra e sim exceção. Por este motivo o médico de família precisa de um método de trabalho diferenciado, e ao invés do método tradicional, que é centrado na doença, utiliza o método centrado na pessoa. Isto significa que além da doença é preciso compreender a pessoa adoecida, abordando suas expectativas, sentimentos e receios, negociando os pontos de conflito. E reconhecer que por vezes questões sociais como a solidão, o desemprego e o preconceito podem ser a origem do sofrimento, e não uma doença. A continuidade do atendimento ao longo do tempo permite ao médico aprofundar seu conhecimento a respeito de cada um dos seu pacientes, tornando-se um especialista em pessoas.


Referências:

1. Allen J, Gay B, Crebolder H, et al. (2011) The European Definition of General Practice/Family Medicine. Short version. WONCA Europe 2011. Versão em português disponível aqui.

2. Finley CR, Chan DS, Garrison S, Korownyk C, Kolber MR, Campbell S, Eurich DT, Lindblad AJ, Vandermeer B, Allan GM. What are the most common conditions in primary care? Systematic review. Can Fam Physician. 2018 Nov;64(11):832-840. PMID: 30429181; PMCID: PMC6234945. Disponível aqui.

3. The College Of Family Physicians in Canada. Four Principles of Family Medicine. Disponível aqui.

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